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Mostrando postagens de junho, 2017

Ostend: Stefan Zweig, Joseph Roth, and the summer before the dark, de Volker Weidermann

Lançado em 2016 e acessível pelo Kindle, este pequeno livro (176 páginas) do alemão Volker Weidermann traz uma série de pequenas passagens da vida intelectual dos anos 30.  Em 1936, às vésperas da catástrofe, a pequena cidade belga de Ostende atrai inúmeros escritores, artistas e intelectuais - muitos deles judeus - que, em sua maioria, logo seria tragada pela Segunda Guerra. Lá estavam Klaus Mann, que lançou seu romance Mephisto, Arthur Koestler, Ernst Toller, Irmgard Keun, entre outros. Mas o foco do livro de Weidermann é a amizade entre Joseph Roth, de Brody, nos confins do finado império habsburgo, e imerso na cultura iídish e no álcool, e o austríaco Stefan Zweig, cosmopolita, assimilado e ocidental escritor, lido por milhões, aclamado por onde passava. Em 1936, no entanto, já não podia ser lido na Alemanha. Zweig desaprovava a propensão à bebida de Roth, mas financiou, por muito tempo, o amigo, que vivia sem dinheiro e com fome. O sucesso de seus livros era todo direc

Diplomacia, de Volker Schlöndorff (2014)

Baseado na peça de Cyril Gély. Mesclando algumas imagens da época, conta a história do encontro entre o general alemão Dietrich von Choltitz (interpretado por Niels Arestrup) e o cônsul sueco Raoul Nordling (André Dussolier). Os alemães, já em fuga, pretendem destruir Paris antes da chegada dos americanos que libertariam a cidade em poucos dias. Vemos a descrição do plano, que levaria a explosões e inundações, que resultariam na morte de mais de 2 milhões de habitantes. O plano, de fato, existiu, bem como os personagens, cujo encontro, no entanto, é fictício. O cônsul sueco, de origem francesa, tenta convencer o general a desobedecer Hitler. O Führer desistiu de preservar a cidade após o bombardeio de Berlim. A trama se passa durante a manhã de 25 de agosto de 1944. O general, no início, reitera sua lealdade - e menciona episódio envolvendo judeus. Mas acaba cedendo a Nordling (não dá para chamar isso de spoiler - sabemos que a cidade não foi destruída...). Humanismo ou a

Happy Bloomsday

Sétimo Bloomsday deste blog, sétima promessa de ler Ulysses. Portanto, já não tem lá muita credibilidade.  Mas agora, com o guia do Caetano Galindo, autor da última tradução brasileira do livro (nada mau para um país como o nosso se dar ao luxo de ter três versões do Ulysses ), quem sabe a coisa vai... em homenagem ao 16/06, vou lá me arriscar, ao menos, nessa visita guiada. A leitura da Odisseia fazia, até certo ponto, parte do projeto... Quanto ao Bloomsday, e esperando poder escrever bastante a respeito em 16/06/2018, veja a  página do The James Joyce Centre.

O que cantavam as sereias?

Dúvida cruel, que sempre me perseguiu. Pois descubro  nesta entrevista com Francisco Luís Parreira  não ser o único. Ele acaba de traduzir Gilgamesh e acaba falando do assunto - no caso, quando lhe perguntam sobre a tradução de Frederico Lourenço. Aqui, um trecho: Contrariando uma tendência de anos recentes, exemplificável com algumas traduções de Homero feitas por Frederico Lourenço, optou por uma tradução e por uma edição ostensivamente eruditas. Porquê? Não creio que uma edição do   Gilgameš   pudesse caber nessa tendência. Seria quase afrontoso publicar o poema babilónico sem dar resposta às perplexidades ou apetências – pelo menos às mais previsíveis – que a sua leitura está destinada a suscitar, nomeadamente em vista do seu estado de conservação, dos aspectos interpretativos que são internos às possibilidades da leitura contemporânea, e da situação literária e produtiva de que emana, que não podia ser mais remota. Para a   Odisseia , por exemplo, estas circunstâncias

O túmulo de Lenin, de David Remnick

Na esteira do centenário da Revolução Russa, a Companhia das Letras lança o livro do jornalista americano David Remnick, hoje na New Yorker e testemunho dos últimos dias do império soviético como correspondente na Rússia do Washington Post. O livro foi publicado nos EUA em 1993, ainda sem Putin no radar e com Yeltsin como presidente. Por outro lado, lê-lo alguns meses depois de ter me dedicado ao Fim do Homem Soviético, da Nobel Svetlana Aleksievitch não prejudica em nada, pelo contrário: permite uma visão bastante ampla. São visões complementares. Aleksievitch se dedica, principalmente, às pessoas comuns, escrevendo, ainda, na condição de uma cidadão soviética/bielorrussa, Já Remnick, correspondente internacional, não apenas tinha acesso aos grandes nomes como um senso de urgência em conseguir entrevistas. No início do livro, por exemplo, conta das tentativas para entrevistar Lasar Kaganovich. O mais interessante é o fato de o autor ter vivido a abertura do regime - o