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Mostrando postagens de setembro, 2015

Alberto Savarus, de Balzac

Albert Savarus é um advogado parisiense que acaba parando em Besançon. Balzac explica que "nenhuma cidade oferece resistência mais surda e muda ao progresso". E, pior:  De Victor Hugo, de Nodier, de Fourier, as glórias da cidade, não se fala, ninguém lhes dá atenção. Paulo Rónai avisa - Savarus é o próprio Balzac, "basta ler o retrato físico de Alberto, que, no decorrer da novela, aparece com todos os traços, idealizados, do romancista, vestindo-lhe até o famoso robe de chambre"; na novela de Savarus aparecem alguns personagens da  Comédia .  Uma das grandes famílias de Besançon é a dos Watteville. A mulher do barão é uma jararaca controladora; a filha é Rosália, que logo se apaixona pelo advogado. Aproveita-se do namoro entre os respectivos criados e passa a ler as cartas de Alberto para a Duquesa Argaiolo. Os dois têm um caso.  Alberto escreve um conto - que nos é "recontado" por Balzac, O ambicioso por amor.  Rosália escreve uma c

Circunferência em toda parte e centro em lugar nenhum

INTERNET: Um lugar que, como o Deus dos estudiosos medievais, tem sua circunferência em toda parte e seu centro em lugar nenhum. Como a lua de Ariosto, é um reino onde pode ser encontrado tudo o que esquecemos, e nos alivia da responsabilidade de lembrar de coisas por conta própria. Seus defensores esperam que, eventualmente, a internet vai aliviar-nos de pensar completamente. (Alberto Manguel para seu Dicionário )

António Lobo Antunes ataca mais uma vez

Obrigado por receber-nos em sua casa aqui em Lisboa, a cidade de Pessoa. Não sou admirador de Pessoa. Como assim!?!? O Livro do Desassossego...! O livro do não se o quê que me aborrece de morte. A poesia do heterônimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Witman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Questiono-m se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor. Se você chegou até aqui e quiser ler a entrevista completa publicada na semana passada no El País, clique  aqui. Obs.: agradecendo a dica do leitor José Alexandre Ramos, segue o link para a entrevista em português,    aqui.

Mapa mundi

O mundo literário, na visão de um artista, Martin Vargic, de 17 anos. Ele não esconde sua preferência pela prosa de ficção. A matéria completa, em inglês,  aqui.

Um golpe de mestre, de Reha Çamuroglu

  Um golpe de sorte Reha Çamuroglu Tradução de Marina Mariz Sá Editora, São Paulo, 2011, 130p.   Sultão Vermelho - era com essas duas palavras que todos os adversários do sultão - gregos, armênios, árabes e os Jovens Turcos - o descreviam. Aos sussurros, eles falavam de seus porões de tortura, dos cadáveres que a maré trazia pela manhã e, com ódio, medo e às vezes com uma inveja que não conseguiam ocultar, eles se queixavam desse homem que comandava o império há trinta anos. Contudo, Anna tinha razão. Todos eles pertenciam à elite. Ou tinham bons negócios que arrecadavam muito dinheiro, ou eram filhos de paxás e nobres. Charles via e sentia claramente que as camadas populares amavam o Sultão Vermelho, enquanto a elite - inclusive nos círculos em torno do monarca - o odiava profundamente.   Em muitos casos, a literatura de um país se resume, para o público externo, a um grande nome. O Brasil mesmo, lá fora, foi reduzido a Jorge Amado e, nos últimos anos, suprema decad

Uma estreia na vida, de Balzac

Pouquíssimo lembrado, o curto romance Uma estreia na vida merece uma leitura mais cuidadosa. Oscar Husson é um homem comum, manso, sem pretensões, modesto e sempre se mantendo, como o seu governo, num justo meio. Não causa nem inveja nem desdém. É, enfim, o burguês moderno. Oscar é detestável: pobre com vergonha da mãe, procura fazer carreira, mas tem uma inacreditável habilidade de falar e fazer besteira, que sempre coloca tudo a perder.  Boa parte da narrativa se passa nos coucous, modalidade de transporte ainda explorada por particulares na França. Balzac, aliás, inicia seu romance falando que isso logo fará parte dos "velhos tempos": As estradas de ferro, num futuro já agora não muito distante, deverão fazer desaparecer certas indústrias, modificar algumas outras, principalmente as que concernem aos vários modos do transporte em uso nos arredores de Paris. Também, breve, as pessoas e as coisas que forma os elementos desta cena lhe darão o mérito de um trabalho ar

A Dama Dourada (2015): Simon Curtis

A Dama Dourada provavelmente renderá a Helen Mirren mais uma indicação ao Oscar, no papel de Maria Altman, uma senhora judia que consegue escapar de Viena, deixando para trás a família durante o regime nazista. Há duas questões principais - a história de Adèle Bloch-Hauer, sua tia, modelo de Klimt para seu quadro a dama dourada e do quadro, que foi levado da casa dos pais de Maria pelos nazistas; e a batalha judicial que ocorreu a partir de 1999. Quanto à primeira, vem-me imediatamente o livro de Edmund de Waal, A Lebre com Olhos de Âmbar, que comentamos por aqui. Como no livro, o filme mostra de forma bem evidente que os austríacos não foram exatamente vítimas, mas ativos participantes do regime nazista. A história de Maria Altmann tem ainda um ingrediente especial: ocorreu no momento em que o então presidente da Áustria, Kurt Waldheim, eleito após uma passagem como secretário-geral da ONU, é reconhecido como capitão do Exército com passagem bastante ativa na então Iugoslá

Apostas para o Nobel 2015

O blog mantém a tradição, e desde 2011 acompanha o Labbokes, site de apostas - qualquer aposta.  Modiano não estava entre os 10 primeiros em 2014, mas Alice Munro era a 6ª em 2013 e Mo Yan, o 4º em 2012 mais ou menos no início de setembro. Portanto, há uma chance razoável do Nobel de Literatura ser um dos seguintes: 1. Svetlana Aleksijevitj, nascida na Ucrânia mas bielorrussa (a última ditadura escancarada da Europa) 2. Murakami (sempre ele; nunca me animou) 3. Ngugi Wa Thiong'o (o impronunciável queniano vem frequentando a lista nos últimos anos, esteve em Paraty; ligado aos movimentos anticolonialistas) 4. Philip Roth (era o 9º em 2014) 5. Joyce Carol Oates (ou JCO, como é conhecida a americana; nunca li nada dela) 6. Adonis (poeta sírio e que, por isso mesmo, tem grande chance. Considerado um grande renovador da poesia árabe) 7. Ismail Kadaré (albanês, Dossiê H é incrível; li também Crônica da Pedra , igualmente muito bom) 8. Jon Fosse (norueguês) 9.

Homem Irracional (2015), de Woody Allen

O último filme de Woody Allen tem algo de irônico: o Homem irracional é justamente um professor universitário de filosofia cético e depressivo - Abe (Joaquin Phoenix). Suas aulas são recheadas de Kant, Sartre, Kierkegaad e, claro, para segurar o rojão, doses cavalares de whisky. A aluna Jill (Emma Stone), apesar de estar namorando um outro estudante, fica imediatamente atraída pelo professor, que se mostra resistente às investidas. O momento chave está num restaurante, quando Abe e Jill escutam uma pobre mãe aflita com a possibilidade de perder a guarda do filho para o ex-marido. A culpa seria do detestável juiz Spangler (Tom Kemp). Um sujeito capaz de estragar o mundo à sua volta.  A irracionalidade surge quando ele se atribui a missão de um Raskolnikov, fazendo justiça com as próprias mãos. Ao decidir por essa trilha, encontra uma razão de viver e seu mundo passa a ser colorido: finalmente se entrega a Jill , passa a ver graça nas coisas, volta à vida social, enfim