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Mostrando postagens de maio, 2013

Mendelssohn no telhado, de Jiri Weil

Até ler o romance HHhH, de Laurent Binet, o nome de Jiri Weil não me dizia nada.  Jiri Weil (1900-1959) Resolvi ler este Mendelssohn no telhado  por me lembrar não apenas de Binet, que estará na FLIP, mas também pelo recente 200º aniversário de nascimento de Richard Wagner. E, também, pelo fato de o autor ter sido praticamente redescoberto por Philip Roth. Wagner e Mendelssohn - ou melhor, suas estátuas - estão na gênese do enredo. O romance é ambientado na Praga ocupada - o Protetorado - comandada por Reinhard Heydrich, o HHhH de Binet. Para livrar a cidade - que, segundo os nazistas, sempre fora alemã, e que acidental e temporariamente havia sido ocupada pelos tchecos - dos símbolos judaicos, os invasores decidem arrancar a estátua do judeu Felix Mendelssohn, no telhado da Ópera de Praga. O membro da SS Julius Schlesinger é o encarregado para tanto mas, lá chegando, descobre que há uma infinidade de estátuas de outros compositores. Qual a de Mendelssohn? Qual é mais

Conto da semana - jogando xadrez

Um conto do escritor argentino radicado na Espanha, Andrés Neuman, que pode ser lido aqui no original, diretamente do site da revista chilena   Ojoseco. A Partida trata de um encontro entre amigos - Riquelme e o narrador - que há muito não se viam. Os dois se encontram para uma partida de xadrez - presença garantida em contos e romances... Para ficar na literatura argentina, lá vai Borges: I Regem no seu recanto os jogadores As lentas peças. Esse tabuleiro Demora-os toda a noite no severo Âmbito em que se odeiam duas cores. Dentro irradiam mágicos rigores As formas; torre homérica, ligeiro Cavalo, sagaz dama, rei postreiro, Bispo oblíquo e peões agressores. E quando os jogadores tiverem ido, Depois do tempo os ter já consumido, Decerto não terá cessado o rito. No Oriente incendiou-se esta guerra Cujo anfiteatro é hoje toda a terra. Como o outro, este jogo é infinito. II Tênue rei, torto bispo, encarniçada Dama, torre direta e peão ladino Sobre o negro e

Mia Couto e o Prêmio Camões 2013

Mia Couto foi anunciado o ganhador do Prêmio Camões de 2013. Além do prêmio, o mais importante da língua portuguesa, criado em 1989 por Portugal e Brasil, Mia Couto recebe com isso 100 mil euros. O anúncio da premiação para Mia Couto foi feito na tarde desta segunda no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio. O júri que o escolheu foi composto por Clara Crabbé Rocha e José Carlos Vasconcelos, de Portugal; Alcir Pécora e Alberto Costa e Silva, do Brasil; João Paulo Borges Coelho, de Moçambique; e José Eduardo Agualusa, de Angola. Segundo a Fundação Biblioteca Nacional, responsável no Brasil pela premiação, a decisão foi unânime. Em nota, a FBN destacou o romance "Terra Sonâmbula" como "um dos dez melhores livros africanos do século 20". O jurado Agualusa destacou nos livros do colega a "criatividade linguística inspirada no falar das populações mais pobres de Moçambique" .

Conto da semana, de Lydia Davis

A escritora americana, nascida em 1947, acaba de ganhar o Man Booker International, e é publicada pela primeira vez no Brasil. Ela estará na FLIP em julho. Mas  a Revista Piauí já tinha publicado, há bastante tempo, estes contos. Mais um exemplo - Solitária Ninguém está telefonando pra mim. Nem posso nem ver se há recados na secretária eletrônica porque fiquei aqui o tempo todo. Se eu sair, alguém pode telefonar enquanto eu estiver na rua. Aí vou poder ver se há recados na secretária eletrônica quando eu voltar pra casa.

As casas de Nabokov

Deveria aproveitar e montar uma imobiliária especializada em casas de escritores. Aqui vão duas moradas de Vladimir Nabokov.  Nesta, em São Petersburgo, ele passou os primeiros 18 anos: Esta aqui ele herdou, em 1916, também em São Petersburgo. Rozhdestveno. Deve ter sido muito azar herdar uma propriedade dessas a um ano da Revolução de 1917...

Das Mil e Uma Noites - agora, com Rimsky-Korsakov

Meu primeiro contato com as mil e uma noites foi através de adaptações editadas pela Ediouro. Lembro-me de uma edição de Ali Babá e os 40 Ladrões, recontada por Carlos Heitor Cony. Desde que comprei o primeiro dos quatro volumes, em 2005, venho lendo eventualmente estas histórias. As noites se sucedem; histórias são contadas dentro de outras histórias que são parte de outras histórias. Antes de tudo começar, o rei Sahriyar encara sua triste realidade: Durante dez dias, preparou-se para a viagem, e, deixando em seu lugar um oficial, arrumou as coisas e foi passar a noite com o vizir, junto ao qual permaneceu até bem tarde, quando então retornou à cidade, subindo ao palácio a fim de se despedir da esposa; ao entrar, porém, encontrou-a dormindo ao lado de um sujeito, um dos rapazes da cozinha: estavam abraçados. Ao vê-los naquele estado, o mundo se escureceu todo em seus olhos e, balançando a cabeça por alguns instantes, pensou: 'Isto e eu nem sequer viajei; estou ainda nos

Conto da semana, de Ronaldo Monte

O conto da semana pode ser lido, diretamente do Jornal Rascunho,  aqui.  O autor, Ronaldo Monte (1947) nos conta de um Quijada que mora na Paraíba, vítima de uma Dulcineia que também não vale um centavo - e ainda por cima implica com os livros de sua biblioteca... No final, a resposta adequada para uma pergunta imprópria. Herdara o sobrenome do pai espanhol que cansou de viver na pobreza fora das muralhas da cidade de Toledo e veio morrer de pobreza numa casa de vila no bairro de Jaguaribe. Foi a única herança que seu pai lhe deixou: o sobrenome de Quijada. Odiava que o chamassem pelo nome de Miguel, pois ninguém o pronunciava como gostava, com o 'ele' final acentuado, como seu pai o chamava. Também não gostava quando abrasileiravam seu sobrenome, esquecendo de pronunciar o "rê" no lugar do "jota". Antigamente reclamava, mas ninguém ligava. Afinal, quem iria saber como se pronunciava o nome de um contínuo de repartição pública estadual, de paletó puíd

Sobre as Mil e Uma Noites...

Imaginemos um jogo entre pessoas cultas, em que cada participante eleja os dez maiores clássicos da literatura universal. Não importa o lugar, não importa a época, não importam as pessoas: o único título comum a todas essas listas será, necessariamente, o Livro das mil e uma noites . Embora seja uma obra essencialmente árabe, pelo espírito e pela língua, muita gente ainda parece obstinada em lhe apontar as "fontes", que vão buscar na Índia ou na Pérsia antiga. Com isso, negam aos árabes o mérito de uma de suas maiores criações. É curioso que esses mesmos sábios nunca tenham se preocupado em encontrar as fontes árabes de clássicos como o Decamerão, a Divina Comédia, o Poema de El-Cid, o Livro do Conde Lucanor e mesmo Robinson Crusoé - todos eles recheados de histórias, argumentos e ideias preexistentes na literatura árabe. Alberto Mussa, para a edição brasileira - espetacular - do Livro das mil e uma noites, Editora Globo, tradução direta do árabe de Mamede Mustafá

La Maison du Chat-qui-pelote, Balzac

A reedição da obra de Balzac, naquela que é considerada a melhor tradução do mundo da Comédia Humana, por Paulo Rónai, é um acontecimento a ser celebrado. Já foram editados os quatro primeiros volumes. Um bom projeto: ler todos os romances e contos... Na última semana, li o primeiro de todos - La maison du chat-qui-pelote, Ao   Chat-qui-pelote, na versão de Rónai. Aqui, uma versão para a televisão francesa. Disse Balzac: A ideia primeira de A Comédia Humana foi para mim, a princípio, como que um sonho, como um desses projetos impossíveis que se acariciam e se deixam voar; uma quimera que sorri, que exibe seu semblante feminino e logo em seguida distende as asas, subindo para um céu fantástico. Mas a quimera, como tantas quimeras, transforma-se em realidade; tem suas imposições e suas tiranias, às quais se é forçado a ceder. Essa ideia nasceu de uma comparação entre a humanidade e a animalidade. Como bem apresenta Rónai, este primeiro romance já contém muito da C

Conto da semana, de Dan Lungu

Dan Lungu (1969) nasceu na Romênia e é o autor do conto A esposa das 7 horas, publicado este ano na série Best European Fiction. É muito conhecido na Europa, e sua obra vem sendo traduzida para diversos idiomas.  Aqui, um sujeito sai exausto do trabalho, em mais uma sexta-feira; as vendas andam boas,  tudo vai bem. Mas ele não quer ir a lugar algum. Sai do carro e olha para as montanhas. Está ansioso para as 19 horas. Já sente dor de cabeça pelo fim de semana que se avizinha. E, para combatê-la, recorre a Carolina, sua "mulher das 19 horas", um horário sempre reservado para ele. Ele é um bom cliente, afinal, e ninguém poderia lhe tirar esse horário. Ela, inclusive, sempre espera por ele. Mas não hoje. Recorre à Renata - ah, você é o cliente das 19, não? Parte, então, para o encontro, digamos, alternativo, que é o que lhe resta. O sujeito depende de Carolina que, descobre, está para largar esta vida. Em tempos de 50 tons, uma narrativa seca, em que o perso

Cinco filmes sobre a Segunda Guerra

Aqui vão cinco filmes imperdíveis sobre a Segunda Guerra, que terminou oficialmente em 8 de maio de 1945. É claro que devo ter esquecido umas dezenas de outros igualmente impactantes, mas lá vai: 1-  Roma Cidade Aberta (Itália, 1945). Este filme de Roberto Rosselini, marco do neorrealismo italiano, tem como grande curiosidade o fato de ter sido rodado antes do final da guerra, o que, ainda que se diga que a derrota alemã já fosse uma realidade, não deixa de  lhe conferir uma aura especial.  2-  O Julgamento de Nuremberg (EUA, 1961). Cuidado: veja o de 1961, com elenco fantástico: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Spencer Tracy (o juiz), Marlene Dietrich, Maximilian Schell (advogado de defesa) e Judy Garland. Dirigido por Stanley Kramer. A abertura é fantástica. Aparecem, ainda, imagens de época (lembre-se que pouco mais de 15 anos se passaram entre o fim da guerra e este filme...). Interesse especial para quem trabalha com Direito. 3 - Agonia e Glória (EUA, 1980), dirigido

Dia 4 na Revista Samizdat

Hoje é mais um dia 4 e, no  no site da Revista Samizdat,  o conto - ou tentativa de conto - A bandeira.

Conto da semana, de Villiers de l'Isle Adam

O conto da semana é do francês Villiers de l'Isle Adam (1838-1889). A tortura da esperança, que li na tradução da dupla Aurélio&Rónai, é o conto mais lido do autor no Brasil, além de estar presente em diversas antologias.  Aqui, uma outra tradução . Um clima angustiante domina toda a narrativa. O prisioneiro da Inquisição, o rabino Aser Abarbanel, percebe uma série de acasos que lhe favorecem. O autor vai, aos poucos, reanimando não apenas o personagem, mas o próprio leitor; ambos são surpreendidos ao final.