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Mostrando postagens de setembro, 2012

14 Pequenos Gustavos, de Goce Smilevski

Goce Smilevski (1975) aparece na BEF 2010 com "Quatorze Pequenos Gustavos". Na verdade, é um trecho de seu romance A Irmã de Freud , que deve aparecer no Brasil em breve, pela Bertrand Brasil. Antes disso, falaremos do livro aqui (via Kindle). O conto da semana, portanto, não é exatamente um conto, mas pode ser lido como um. Smilevski explora um lado pitoresco e pouco conhecido de Gustav Klimt (1862-1918): o infeliz pintor teve quatorze filhos, com quatorze mulheres diferentes. Smilevski imaginou-os ainda como quatorze Gustavos. Klimt, quando morreu, deixou quatorze pequenos Gustavos Para Klimt, a cama era um campo de batalha - um lugar onde prazer e raiva tornam-se indistintos: It was the models who posed for him, the women he met at the receptions held at his patrons' housesm the prematurely aged women who looked ten years older than they actually were and who cleaned his studio, it was these women who gave birth to his children, and all these children

Colóquio, Revista de Artes e Letras, 1959-1970

A Fundação Calouste Gulbenkian disponibiliza os 60 números de sua revista, publicada entre 1959 e 1970, como você pode ver  aqui.

Na Revista Kalinka

Que pode ser lida  aqui.

Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio, de Herta Müller

Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio Herta Müller Tradução de Claudia Abeling Editora Globo Livros (selo Biblioteca Azul) 2012, 248 páginas Esta foi uma semana "Herta Müller", autora que até o início do mês jamais tinha lido. Este livro reúne diversos artigos, ensaios e discursos - inclusive o que proferiu ao receber o Nobel de 2009. Não se trata, portanto, de um romance, como informam vários sites de compras - e várias livrarias - mas de um livro que me fez lembrar vários outros: Herta Müller é alemã nascida na Romênia, pertencente à minoria alemã do Banato. Suábios do Banato. A minoria sempre se manteve fiel à tradição alemã e ficou extremamente empolgada com a chegada dos nazistas durante a Segunda Guerra. O pai e o tio da autora, por exemplo, integraram o Exército e a SS. Ela não esconde isso, e deixa claro o seu constrangimento. Evidentemente, este apoio de uma minoria ao invasor do país em que vive teve um preço a ser pago - e aí me lembro do e

Lançamento - Outro dia de folia, de Eduardo Lacerda

Da editora Patuá, parceira do blog. O editor e poeta Eduardo Lacerda lança seu livro de poesia, Outro dia de folia,  em dezembro. Mais informações,  aqui.

Conto da semana, de Herta Müller

Acidentalmente, uma semana Herta Müller. Aqui, o conto da semana, A canção de marchar, que integra a antologia Escombros e Caprichos - o melhor do conto alemão do século XX , organizada por Marcelo Brakes e editada pela gaúcha L&PM. Sempre que o domingo, conforme dizia papai, chegava ao céu, papai encontrava esses estilhaços na sopa. Papai, na condição de herói alemão da guerra, tinha três deles no pulmão. Eles se mudavam de um lugar a outro. Papai tinha medo de que um dia se mudassem para o coração. Aí seria o fim, disse papai. Um dia os estilhaços chegaram ao rosto de papai, e papai não fez a barba durante vários dias. Quando eu olhava, papai punha a colher sobre os estilhaços, ou enterrava-os debaixo de um bolinho de batata ou de um pedaço de legume. Na hora de lavar a louça, os estilhaços tiniam em seu prato. Um dia nós estávamos visitando a irmã de papai e ela serviu uma sopa rala. Papai mais uma vez encontrou os estilhaços em seu prato. E como não pôde e

Joseph Anton

Salman Rushdie volta a ser lembrado - em meio aos protestos dos muçulmanos pelo recente filmeco no Youtube. A fatwa foi decretada em 1989; em 1998 o Irã desistiu de cumpri-la, mas o atual governo parece ter mudado de ideia. A coincidência é óbvia. Acaba de sair seu livro de memórias, Joseph Anton, um dos nomes que ele se viu forçado a adotar - uma homenagem a Conrad e Tchekov. 

Lorde Macaulay e Sócrates

Após a condenação, a corte não tinha de aceitar a punição pedida pelo promotor. O próprio acusado poderia sugerir uma pena mais branda. E os promotores pareciam esperar, ou mesmo desejar, que Sócrates propusesse o banimento, que a corte teria aceitado e, com isso, aliviaria a sua culpa pela morte dele. Sócrates não teve nada disto, como Platão relata. Em vez de pedir clemência, Sócrates exibiu seu incomum talento para irritar. O que nos ajuda a compreender a impaciência em relação ao seu caráter manifestada por argutos historiadores. "Quanto mais eu leio sobre ele", declara lorde Macaulay, "menos eu me surpreendo com o fato de que eles o envenenaram". Daniel J. Boorstin, Os Investigadores, Civilização Brasileira, 2003, p. 55. Boorstin (1914-2004) foi nomeado Bibliotecário da Biblioteca do Congresso, e autor do excelente Os Descobridores. 

Timoféiev, de Leonid Dobytchin

O Conto da Semana é do russo Leonid Dobytchin (1894-1936) e integra o volume Encontros com Lis e outras histórias, da parceira do blog,  Editora Kalinka . Autor das primeiras décadas da finada União Soviética, é equiparado a Babel e Kharms.  Reprovado no exame, Timoféiev nem foi almoçar. Dirigiu-se direto para casa, tirou a jaqueta e deitou-se para dormir. Atarracado, com o rosto cinzento e a barbicha amarela desgrenhada, ele deitou-se de costas e começou a roncar. Sobre sua testa, curvando-se como varas de pescar, pendiam algumas mechas inconsistentes, às quais aderiam os cabelos ralos. A camisa azul de cetim desbotada escapou do cinto, e, entre ela e a calça, apareceu a camisa de baixo, manchada por um percevejo esmagado. Moscas assentavam no seu rosto - ele gemia e as afugentava com a mão, mas não acordava. Só foi acordar de noite, após o pôr-do-sol, com a luz ardendo numa lâmpada, largada num canto qualquer depois de uma noite longa de estudos, e a torneira aberta. Ele sal

O teu rosto será o último, de João Ricardo Pedro

O teu rosto será o último João Ricardo Pedro Leya, 2012 208 p. Diz a orelha da edição portuguesa que, na primavera de 2009, em consequência do carácter caprichoso dos mercados, achou-se com mais tempo do que aquele de que necessitava para cumprir as obrigações do quotidiano. Num acesso de pragmatismo, começou a escrever. Bota pragmatismo nisso. Desempregado e sem nunca ter escrito nada, iniciou esse romance que levou o Prêmio Leya de 2011 e, de quebra, 100 mil euros. Num grande romance de estreia, João Ricardo Pedro (1973) traça uma narrativa absolutamente não cronológica, de três gerações de uma mesma família, os Mendes, envolvida com a ditadura de Salazar e a guerra colonial. O ponto de partida é 1974, mas o romance não trata disso. Augusto, Antonio e Duarte - os três Mendes. O amigo do velho doutor Augusto, Policarpo, que lhe escreveu cartas por toda a vida, era um viajante que caiu no mundo. Parou em Buenos Aires, Sendo um amante da liberdade, não deixava

No cinema, nova versão de Anna Karenina

Dirigido por Joe Wright. Com Keira Knightley, Jude Law, Emily Watson. Alguém se lembra da versão de 1997? 

Conto da semana, de Thomas Bernhard

No tribunal distrital de Wels, uma senhora com quarenta e oito condenações anteriores, que o juiz, logo na abertura deste seu mais recente julgamento, como relata o jornal local, caracterizou como ladra anciã e bem conhecida da justiça e cuja presente acusação se devia ao furto de um monóculo inteiramente inútil para ela, roubado havia pouco de uma falecida frequentadora da ópera, a qual já não conseguia andar fazia muitos anos, não ia mais à ópera e, por essa mesma razão, não apenas nunca mais utilizara o monóculo mas também o esquecera por completo, como se verificou ao longo do julgamento – essa senhora, pois, logrou ter sua pena de apenas três meses de prisão aumentada mediante um safanão que desferiu no juiz tão logo proferida a sentença. Esperava conseguir no mínimo nove meses de prisão, porque não suportava mais viver em liberdade, alegou ela Aumento.  Tradução de Sérgio Tellaroli. Integra O Imitador de Vozes, Companhia das Letras.

O chapéu de Vermeer, de Timothy Brook

O chapéu de Vermeer Timothy Brook Record, 2012 Tradução: Maria Beatriz de Medina 278 p. O que um pintor conhecido pelos belos quadros reproduzindo os interiores dos lares e das famílias holandesas tem a nos dizer a respeito da primeira onda da globalização, no século XVII? E sobre a China da dinastia Ming? O canadense Timothy Brook é professor de História da China na Universidade de Oxford escreve um livro de história, um livro sobre a expansão europeia e a busca (sim, desde o século XVI) pelo eldorado chinês. E usa como fio condutor de seu trabalho cinco quadros de Vermeer, um de van der Burch, outro de Leonaert Bramer e um prato do Museu Lambert van Meerten, em Delft. Na única paisagem ao ar livre que produziu, Vista de Delft, vemos o porto fluvial e os escritórios e armazéns da VOC, a mitológica Companhia das Índias Orientais, a primeira grande sociedade anônima, fundada em 1602 e extinta em 1800. Para Proust, era o quadro mais belo do mundo. Ofici